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Combustível Verde .

Biocombustível para 2010.

17. Combustível verde

As principais apostas de fontes energéticas que, em três décadas, devem substituir o petróleo

Depois da descoberta do pré-sal, pouco se escuta falar do biocombustível. Porém, ele ainda é a “bola da vez” para o Brasil, além de, diferentemente das futuras plataformas de petróleo, já ser uma realidade. Isso porque a produção de etanol, derivado do álcool, está consolidada, o que fez com que o país ganhasse status no mercado internacional.

Já com o biodiesel, derivado de óleo vegetal, o Brasil comemora o fato de ser o terceiro maior produtor e consumidor do mundo, com uma produção anual de 1,2 bilhão em 2008.

A capacidade de produção do combustível alcançou, em janeiro, 3,7 bilhões de litros. Hoje, a gasolina consumida no Brasil tem entre 20% e 25% de etanol, e o diesel é composto por 4% de biodiesel, o que melhora a qualidade dos combustíveis e contribui, mesmo que, ainda, em pequena escala, para a redução de emissões de gases na atmosfera. Até quinta-feira (24/12), o Correio publica uma série sobre as novas opções de energia, que devem dominar, num futuro próximo, o mercado dos combustíveis.

O álcool proveniente da cana de açúcar tem sido o biocombustível número 1 na política brasileira de incentivo a energias alternativas ao petróleo. Sua principal vantagem é a menor poluição que causa, em comparação aos combustíveis derivados do petróleo.

“A cana é um produto completo porque produz açúcar, álcool e bagaço, cujo vapor gera energia elétrica”, explica Ricardo Dornelles, diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME).

Contudo, possui diversas desvantagens, como o fato de não resolver o problema da dependência do petróleo. A saída é o uso do etanol de segunda geração, onde a matéria-prima para a formação do biocombustível é proveniente da celulose.

Fonte infinita

Segundo Marcelo Ayres, pesquisador da Embrapa envolvido no projeto, essas matérias-primas podem ser uma fonte infinita. “O processo nos permite fazer etanol de tudo que tenha tecido vegetal. Por exemplo, folha e tronco de árvore, palha, e até lixo orgânico.” De acordo com Dornelles, o bagaço da cana de açúcar seria o grande potencial de matéria-prima para a produção de etanol de segunda geração.

“O bagaço é uma matéria-prima que já está pronta – já foi colhida, tratada, e existe em grande quantidade. Com isso, vamos, sem plantar um pé de cana a mais, dobrar a produção de álcool, só usando resíduo da própria cana”, diz. O projeto para o etanol de segunda geração já foi aprovado e conta com pesquisa de mais de 20 instituições, entre públicas e privadas. O governo acredita que depois de cinco anos de pesquisa, essa tecnologia será realidade.

O biodiesel, por sua vez, já está presente nos postos de combustíveis brasileiros, na proporção de 3%, misturado ao óleo diesel. Uma das vantagens dessa fonte de energia é sua origem diversificada. Pode ser obtida a partir do processamento de diversos óleos vegetais – girassol, soja, pinhão manso, mamona, palma, dentre outros. É ele que tem possibilidade real de substituir quase todos os derivados do petróleo sem modificação nos motores, eliminando a dependência do chamado “ouro negro”.

Além de ser naturalmente menos poluente, o biodiesel reduz as emissões poluentes dos derivados de petróleo (em cerca de 40%, sendo que seu potencial cancerígeno é cerca de 94% menor que os derivados do petróleo). Também possui elevada capacidade de lubrificar as máquinas ou motores, reduzindo possíveis danos, é seguro para armazenar e transportar porque é biodegradável, não tóxico e não explosivo nem inflamável à temperatura ambiente.

Como se não bastasse, ele não contribui para a chuva ácida, por não apresentar enxofre em sua composição, e permite dispensar investimentos em grandes usinas, ou linhas de transmissão, para atendimento local de energia em regiões com pequena demanda.

Entretanto, sua produção esbarra na matéria-prima. A soja é a oleaginosa mais utilizada atualmente para produção do biodiesel. Porém, como ela é uma commodity, a produção se torna cara. Contudo, pesquisas mostram que outras plantas têm grande potencial, até maior que o da soja. Entre elas, estão o pinhão manso, a mamona, o dendê, o girassol, a palma e a macaúba.

De todas, a mais produtiva é a palma. “Ela tem um volume de óleo quatro vezes maior que a soja”, esclarece Dornelles. O problema, entretanto, é que a palma é uma cultura que leva seis anos para produzir. O pinhão-manso também é uma aposta. Segundo Dornelles, ele tem uma produtividade maior, com custos menores, por ser uma planta rústica.

“O pinhão-manso já tem alguns anos de pesquisa, e se mostra a matéria-prima com maior possibilidade de ser implantada.” Todavia, o conhecimento sobre a cultura dessas plantas nativas ainda é incipiente e a tecnologia para utilização precisa de muitos estudos para ser mais viável economicamente.

Desafios

Em entrevista ao Correio, Marco Antônio Martins Almeida, secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, fala sobre a substituição do combustível fóssil pelo biocombustível, da sua qualidade no Brasil e os desafios para colocar de vez o biocombustível no mundo.

Almeida também comenta sobre a questão da competição entre alimentos e etanol e sua produção sustentável.

Leia a entrevista:

– Como é a qualidade da produção do biocombustível no Brasil?

É de excelente qualidade. O álcool e o etanol melhoram a qualidade da gasolina. A gasolina misturada ao etanol pode ser mais fraca que a comum e, exatamente ao ser misturada ao etanol, o produto final fica com uma qualidade superior. O nosso biodiesel também é de excelente qualidade. Com ele, se reduz a emissão de enxofre e de alguns particulados, além de melhorar a qualidade do combustível fóssil no qual está sendo misturado. Não há dúvidas: a mistura com combustível vegetal é sempre benéfica em termos de emissões e qualidade de produto.

– O biocombustível pode vir a substituir o combustível fóssil?

Acredito que sim, mas o problema é saber quando isso vai acontecer. Essa substituição total será a longo prazo, diria que em uns 30 anos. Também vai depender de como será o crescimento desse mercado. Se, por um lado, o biocombustível é renovável, por outro, ele tem algumas limitações em termos de área. É evidente que estaremos sempre ganhando tecnologia para aumentar a produtividade, mas é o tempo que vai dizer quando será possível a substituição total. A princípio, não existe uma meta para isso, e também não entendemos que seja adequado estabelecê-las, pois estamos em período de experimentação.

– Quais são os desafios nas rodadas de negociação sobre comércio mundial?

Primeiro, é transformar os biocombustíveis numa commodity internacional, para que, num momento de escassez, haja outro mercado para suprir. Para que o biocombustível seja o mais usado no mundo e tenha melhor qualidade, é preciso ter garantia de mercado. O segundo é reduzir o custo de produção. Alguns biocombustíveis ainda não têm escala de produção e, portanto, não têm condição de competir por enquanto com os combustíveis fósseis. Há uma preocupação e uma tendência de redução de custo de produção, de tal maneira que os biocombustíveis possam competir de maneira igual com os fósseis.

– Como fazer a produção sustentável de modo a não emitir mais poluentes no processo de produção?

Primeiro, com o uso de máquinas na lavoura, movidas a biocombustível. Com isso, não há emissão de gases na atmosfera. Vamos ter, quando muito, a emissão promovida pelo preparo do solo para o plantio. Porém, com novas práticas agrícolas, como o plantio direto, esse pequeno volume de emissão de gases no processo produtivo está sendo reduzido. As usinas de álcool, por exemplo, utilizam o bagaço de cana para a geração de energia elétrica. Então, essa energia também não é poluente.

– A produção do etanol pode afetar a de alimentos?

Não. Há uma quantidade enorme de áreas no Brasil que não estão sendo aproveitadas, ou estão sendo subaproveitadas, e o etanol tende a ir para essas áreas. Por outro lado, temos um volume de área plantável no Brasil enorme. Para se ter um ideia, a nossa área plantada de cana para etanol é de 4 milhões de hectares, a plantável é de 90 milhões de hectares. Desses, 64 milhões são voltados só para o plantio da cana. Isso quer dizer que posso multiplicar em 16 vezes a área plantada sem afetar em nada a área que está sendo utilizada para outras culturas. Então, não existe a possibilidade de, nas próximas décadas, a produção de etanol de alguma forma competir com a produção de alimentos, e, menos ainda, com a destruição de florestas porque elas estão em uma área inapropriada para a produção de etanol.

(Silvia Pacheco)

(Correio Braziliense, 21/12)

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